domingo, 8 de março de 2009

Para reflexão: Interesse público x interesse do público

Discurso do Desembargador Alexandre Victor de Carvalho, Superintendente de Comunicação do TJMG.
"Qual é o verdadeiro poder da mídia? Até que ponto ela influencia o comportamento das pessoas, cria ou acirra situações? Ampliando ainda mais o escopo desse questionamento, até que ponto a sociedade endossa o sensacionalismo e as notícias espetaculares, incrementando o drama e a violência?
No início deste ano de 2009, recebemos a notícia de que Lindemberg Alves, 22 anos, vai a júri popular. O jovem baleou e matou a ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, depois de mantê-la por 100 horas em cativeiro, na cidade de Santo André (SP).
O desfecho trágico do sequestro, amplamente divulgado pela mídia, traz vasto material para reflexão. A própria Imprensa tem debatido o tema, o que, realmente, é necessário diante de situações estarrecedoras como essa, que merecem ser discutidas.
Quem acompanhou a cobertura dos fatos à época, assistiu ao vivo à cena do jornalista ligando para o telefone celular do seqüestrador, obtendo entrevistas exclusivas e espetaculares. O objetivo não poderia ser outro: angariar mais índices de audiência, sem considerar o fator humano ali presente, as pessoas e famílias envolvidas, bem como o estado psicológico e a vulnerabilidade dos jovens – essa é uma questão complicada!
Por outro lado, o fato de a sociedade acompanhar cada detalhe, ávida de tragédia e curiosa por informações minuciosas, sem o mínimo compromisso com a reversão da onda de banalização da violência, em que a vida real é como um filme de ficção, matar e morrer são coisas triviais – essa atitude é também estarrecedora.
É também necessário considerar que a televisão, campeã da espetacularização do drama humano, bem como o rádio são concessões públicas. Precisam, portanto, atender a princípios que regem o “interesse público”, ao invés da mera atenção ao “interesse do público”.
Não se pode mais ser conivente com meios de comunicação de massa que desinformam e deformam a realidade, sem refletir com profundidade sobre questões sociais dignas de debate. A mídia precisa ter uma função pedagógica, assumir o compromisso de aprimoramento humano e social.
Por isso, vejo com otimismo a criação de canais educativos, como a TV Justiça, cuja preocupação maior é informar e formar o cidadão. Infelizmente, esses canais ainda têm pouca penetração no mercado, por serem via satélite ou mesmo por se tratar de TV a cabo, o que será mudado com a era da TV digital. Certamente, novos paradigmas serão criados.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), desde o início, tornou-se parceiro da TV Justiça, com a criação do programa “Justiça em Questão”. Esse programa, que já passou da 100ª edição, busca traduzir a linguagem jurídica, mostrar os direitos dos cidadãos, a atuação da Justiça e as prerrogativas da lei.
Lembro que, há pouco mais de dez anos, era difícil imaginar que o Judiciário chegaria à mídia de massa. Na verdade, eram poucas as notícias veiculadas sobre a instituição judiciária. O clipping dos jornais feitos nas assessorias de comunicação traziam, em sua grande maioria, informações conjunturais, relacionadas à política, economia, cultura e outras, por não serem comuns reportagens específicas sobre a Justiça.
A Constituição Federal de 1988 e a própria evolução da sociedade trouxeram mudanças profundas e benéficas para o exercício da cidadania. O Judiciário passou a pautar os jornais. As pessoas puderam conhecer melhor a estrutura e funcionamento do Poder Judiciário, bem como as alternativas para se fazer valer um direito.
Não se pode negar, ainda, a atuação das assessorias de comunicação dos órgãos ligados à Justiça como um dos fatores que propiciaram maior visibilidade ao Judiciário. Rapidamente, todos os órgãos da Justiça procuram estruturar núcleos de comunicação – o TJMG foi um dos pioneiros.
Os resultados podem ser percebidos facilmente. No período de julho de 2007 a junho de 2008, o Judiciário mineiro obteve 4.192 inserções em 27 jornais impressos, rádios e canais de TV analisados. Isso equivale, em média, à veiculação de 11,5 matérias por dia, sendo que 50% delas tiveram como fonte a Assessoria de Comunicação Institucional (Ascom) do TJMG – unidades Goiás e Francisco Sales – e do Fórum Lafayette.
É importante ressaltar que as notícias produzidas pelas instituições buscam resguardar o princípio do interesse público. Possuem função pedagógica, visam ao fortalecimento do Estado e da cidadania, informando sobre direitos, deveres, serviços e iniciativas voltadas para a sociedade.
Certo é também que somente a produção e veiculação de notícias pelas empresas e instituições não atendem às necessidades de informação da população. O papel da Imprensa é fundamental. A partir das sugestões de pautas encaminhas pelas assessorias de comunicação e das informações originárias das diversas fontes, cabe aos jornalistas oferecer notícias contextualizadas às pessoas diariamente. Não existe democracia sólida sem informação ampla e de qualidade".
FONTE: TJMG.GOV.BR

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